Carol
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Por Carol Tilkian (@caroltilkian_amorespossiveis)

Colunista da Glamour Brasil, psicanalista e pesquisadora de relações e amor

"Foi um encontro incrível. Na verdade três, em menos de uma semana. Logo no terceiro, senti uma intimidade forte que há muito tempo não sentia. Tinha uma conexão entre a gente. De pele, de papo, de olho no olho, de beijo, de conversas existenciais… tinha eco, sabe? Como se ficasse tudo reverberando numa outra frequência - e eu nem sou dessas mulheres místicas. Logo que saí da casa dele, isso me deu medo", me confidenciou uma amiga querida.

A história poderia ser mais uma deliciosa narrativa de um apaixonamento súbito, desses que fazem a gente lembrar que a vida é maravilhosa justo naquela 4ª feira em que brigamos com o chefe, arranhamos o carro na saída do escritório e tentamos afogar as mágoas num bolo da padaria chique, mas ficamos ainda mais irritadas porque, assim como nossa vida amorosa, aquele bolo era pura promessa e não valeu nem as calorias nem os reais investidos. Pausa dramática. Crise de choro súbita. "Por que de novo isso?", me pergunta ela. "Por que mais um amor não correspondido?".

Sim, porque, na sequência do seu relato, ela contava que "Aparentemente não rolou nada errado, mas após um mês intenso - encontros todo fim de semana, viagens, mensagens, confidências e uma certeza de que nós dois estávamos muito à vontade pra ser exatamente quem a gente era, sem máscaras (Brené Brown e seu poder da vulnerabilidade me dariam estrelinha no caderno!) - ele cancelou um jantar numa quarta; se enrolou no trabalho na sexta e nunca mais me procurou. Tava tudo indo bem... Eu simplesmente não entendi e isso tá me corroendo". Você também já se corroeu por um amor assim, não correspondido? Como lidar e seguir em frente?

Para mim, o perverso dos amores não correspondidos é que eles não são exatamente "não" correspondidos e sim "mal" correspondidos. E é esse "mal corresponder" que atrapalha tudo. Esse é aquele tipo de história que se situa num limbo emocional entre os amores platônicos e idealizados e os amores mundanos, vividos, gozados, mas também desgastados. Porque você revê as mensagens, as selfies fofas tiradas no domingo de manhã e pensa "não é possível… não tô louca, não vivi isso sozinha…". Não, você não viveu isso sozinha, mas "de repente, não mais que de repente fez-se de triste, o que se fez amante e de sozinho, que se fez contente. Fez-se do amigo próximo, distante. De repente, não mais que de repente", como diria Vinicius de Morais (que, diga-se de passagem, casou 9 vezes! Imagina quantos amores ele deixou de repente por aí? A gente que lute).

Todo amor mal correspondido começa surpreendentemente bem, o que enche a gente de ânimo e faz a gente querer ser ridícula e voltar a escrever cartas de amor citando Fernando Pessoa. Sim, "todas as cartas de amor são ridículas. Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas". O lance é que a gente queria se sentir ridícula junto com o cara e não se sentir ridícula sozinha, exposta pelo outro que tirou o envolvimento emocional de campo e te deixou emocionalmente nua (nudez que é muito mais constrangedora do que a física; quem já sentiu, sabe).

O agridoce do amor mal correspondido é que você mal teve o tempo de se deliciar com o gosto da "sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida" e ele foi embora… Deixando o amargo presente na boca e um futuro lindo que poderia ter sido, se as coisas não tivessem terminado tão mal. Mas será que elas terminaram? Porque um dos males do amor mal correspondido é que eles deixam tudo mal explicado, mal acabado… O que faz a gente se fazer muito mal, sem perceber.

O amor mal correspondido não corresponde nossas expectativas de próximos passos, mas cruelmente se corresponde com migalhas de afeto - o que é perigosíssimo

A versão 2024 de nossos Vinicius de Morais que, de repente, não mais que de repente, se fazem distantes são os queridos e queridas que nunca mais nos chamam pro fim de semana na praia, mas seguem vendo nossos stories, comentando uma ou outra foto, mandando mensagens vagas por inbox ou perguntas protocolares para saber como você tá - a famosa manutenção. A pessoa raramente some do nada. Ela não corresponde como você gostaria, mas segue "mal correspondendo". Ai, ao invés de trucar as mensagens vagas e chamar para uma nova rodada de viagens fofas e noites românticas, você faz o que? Se mantém nesse limbo relacional. Para as amigas, para o mundo e para você mesma, você finge que já acabou e que você tá aberta para novos amores. Mas, no inbox e nos stories, você perde noites vendo se o cara visualizou suas postagens ou se respondeu suas mensagens vagas (been there, done that. Não me orgulho, mas a gente precisa assumir. Sim, seu lado analisado sabe que é pouco, mas seu lado emocional pensa que ainda é algo diferente da indiferença total…).

Minha própria amiga me confidenciou algo parecido: "Recentemente, reagi a um story dele, ele respondeu e perguntou como eu estava... Eu poderia ter proposto de fazermos algo, mas queria que a iniciativa partisse dele e não veio." Pois é… Não veio porque ele não quer mais do que isso. Mas, na pura negação, dizendo que estamos tentando entender o que aconteceu, a gente se mantém em suspensão (ou seria negação?). Mantemos propositalmente a relação em reticências para não nos depararmos com o fim. E não é o fim da história e, sim, o fim da nossa fantasia.

Eu penso que os amores não correspondidos mexem tanto com a gente porque eles reeditam nossa ferida narcísica. Nós, no auge dos nossos 20, 30, 40 anos, supostamente com análise em dia, teoricamente sabemos que "tudo não teremos" e que "nem Jesus agradou a todos". Mas o amor não correspondido escancara as nossas faltas e a nossa falta de controle sobre nossas faltas e a falta de conexão ou de prosseguimento dessa história amorosa. "Mas eu sou tão legal, eu não pressionei, dei espaço, eu sou aquário, ele é leão, opostos complementares. A gente estudou na mesma escola, teve aquela conversa até 3 da manhã com papos filosóficos…. Aquele dia que ele chegou sexta a noite teoricamente só para um drink em casa e saiu só na segunda meio dia. Teve beijo bom, sexo bom, conchinha boa, teve papo de filosofia, de cinema francês, de trauma de família, de reality cafona… Não entendo o que aconteceu…”

Daqui para você reclamar na análise e no grupo de amigas que tá faltando responsabilidade afetiva entre os caras e que, por isso, você tá pensando em adotar o "boy sober" como estratégia de detox emocional é um pulo. Mas será mesmo que essa "mal correspondência" faz do outro necessariamente um mau caráter ou quem está te fazendo mal é você mesma por deixar a história em suspensão, manter o cara na posição de vilão e você, mais uma vez, no lugar terrível, mas conhecido, da rejeitada?

O amor mal correspondido traz para a gente a dor e a delicia da imprevisibilidade do encontro amoroso. Uma das pessoas se apaixona muito e a outra não. Uma das pessoas quer viver um amor Grey's Anatomy 18 temporadas e outra está plena vivendo um curta metragem Almodovariano de 12 minutos. Os dois são lindos. É sofrido, mas é humano - o outro não tá fazendo isso de caso pensado. Existe essa obsessão pelo controle e o amor escapa o entendimento. Muitas vezes, a própria pessoa não sabe porque ela parou de sair com você. Às vezes, estava gostoso até não estar mais e ela também não tem muita clareza de porque era uma ficada gostosa, mas que não evoluiu para um namoro. A gente busca uma racionalização do outro que nem sempre existe.

O que é correspondido num amor não correspondido

Penso que um dos grandes desafios ao viver um amor não correspondido é não corresponder ao reforço da tese de nosso superego cruel que nos diz que nós não correspondemos às expectativas do mundo e que, mais uma vez as coisas não deram certo. Aqui, pra voz na nossa avó que dizia que éramos a neta problema ecoar junto com o bullying da escola e o Pedro Henrique que te trocou pela Cecilia loira e magra no 2º colegial são altíssimas.

Assim como o amor mal correspondido não faz do outro uma pessoa má, temos que trabalhar arduamente em nossas análises pessoais pra evitar o caminho angustiante de nos identificarmos com a pessoa faltante. Ou melhor, temos que ser corajosas para nos identificarmos com a pessoa faltante, mas entendermos que não foram nossas faltas que inviabilizaram as relações. Provavelmente foram elas que criaram os momentos mágicos de apaixonamento.

Sim, queríamos um amor Greys Anatomy. Sim, poderia ter sido lindo. É preciso honrar o desejo dessa continuidade, viver o luto das fantasias, das expectativas, dos "e se...". Mas entender que tudo isso fazia parte de um campo lindo de projeções. Universos de possibilidades abertos a partir de um encontro real que não foi pelo caminho que você imaginava ter ido. Como lidar? Chore, tenha raiva, se frustre, viva o luto, mas siga. Sinta sem entender. Coloque um ponto final nas reticências. Queira ser ridícula junto com um novo alguém, e não sozinha. E entenda que ninguém é mau por que o amor foi mal correspondido. Isso se chama amor. E a gente não controla nada sobre ele - ainda bem. Se não não seria tão lindo.

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Vou amar te ajudar nesse processo!

Beijos,

Carol

| Canal da Glamour |

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